LAMOSA – História de uma aldeia serrana

Imagem de Lamosa do Outeiro para poente. Anos 50. Em primeiro plano, casario que faz parte da construção mais antiga. Em segundo plano, casas do “Ribeiro” de construção ou reconstrução mais recente, mas que terá sido um dos núcleos originais.

Ao contrário do contexto atual em que o interior do país sofre um acelerado processo de desertificação humana, ao qual Lamosa e região em que se insere não escapam, o enquadramento histórico que acabamos de apresentar mostra­‑nos que Lamosa se situava numa região assaz povoada desde tempos remotos, região essa que sempre teve papel de relevo, quer dum ponto de vista económico quer militar na faixa ocidental da Península Ibérica.

Mantém-se incerta a data exata da constituição de Lamosa como localidade, mas será provável que tenha surgido na sequência deste esforço de ocupação e povoamento da região, em data próxima da fundação da própria nacionalidade. As poucas fontes conhecidas atestam que a sua origem resultou da constituição dum casal «casato» ou quinta, provavelmente explorado inicialmente por servos organizados numa família mais ou menos alargada.

A tradição popular remete a fundação de Lamosa para uma família ou famílias de degredados. Não foi possível documentar esta lenda, mas é plausível encontrar nela algum fundamento. Após a reconquista cristã das terras a norte do Mondego, impunha-se o seu povoamento como forma de tomada de posse efetiva e rentabilização económica. É, pois, aceitável, ou mesmo provável, que para aqui tenham vindo, sob coação ou voluntariamente, exilados por razões diversas. Constituía, na verdade, prática corrente repovoar as terras por meio de servos – ou mesmo escravos, nomeadamente escravos mouros – a quem eram distribuídos casais e concedida, normalmente, autonomia ou liberdade.

(…)

Em 1120, D. Afonso Henriques validou os domínios de Egas Moniz entre os quais se situava a honra de Caria que, segundo Ricardo Gouveia, já incluía Lamosa.

Embora o único foral conhecido de Caria, enquanto concelho, seja o outorgado por D. Manuel I em 15 de Dezembro de 1512, há já referências a um primitivo castelo que existia pelo menos no ano de 960 de acordo com o testamento de D. Flammula exarado no livro de D. Mumadona[1], sendo igualmente referido no inventário dos bens do Mosteiro de Guimarães de 1059, embora sendo pouco provável a sua existência nesta data visto ter sido destruído cerca de 60 anos antes por Almançor e nunca reconstruído.

Ora Lamosa tinha 33 vizinhos (cerca de 130 habitantes), em 1527, apenas menos dois que Caria, sede de concelho e cuja existência remonta já ao período romano. Juntando estes dados ao facto de diversas localidades vizinhas do vale do Paiva já existirem no tempo da ocupação árabe, é hipótese sustentável e até provável que alguma aglomeração humana existisse já em terras de Lamosa desde os tempos pré-muçulmanos, sem prejuízo do nascimento da atual povoação em resultado do repovoamento levado a cabo pela família Ribadouro (nomeadamente Egas Moniz) ou, mais tarde, pelo Convento de Cárquere. A existência das sepulturas escavadas na rocha, remetendo provavelmente para a Idade Média, segundo a carta arqueológica de Sernancelhe, comprova a ocupação humana permanente e, com alguma probabilidade, a existência de pequenos núcleos distintos e talvez contemporâneos na Idade Média. Poderão ter sido abandonados aquando das invasões árabes, tendo surgido um novo núcleo, após a reconquista cristã, no “cimo do povo” da atual aldeia de Lamosa. Como atrás referido, esta região foi devastada pelos exércitos de Almançor sendo muitas povoações destruídas e abandonadas, posteriormente reconstruídas, como foi o caso de Caria e Peravelha. Se algum núcleo popu­la­cional existia no território da atual Lamosa foi certamente arrasado. A existir, é de supor que não tivesse grande relevo pois não se conhecem quaisquer vestígios ar­que­­oló­gicos que susten­tem tal existência.


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